sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Dog Days Are Over


Conheci a Florence + The Machine dia desses por um acaso cibernético e fiquei muito surpreso. Dog Days Are Over, minha favorita deles, é um exercício de folk music em seu melhor momento.
A produção é minuciosa e detalhista (há harpas, piano, guitarra e tudo mais) e, ainda assim, a faixa não fica sobrecarregada com instrumentos. A canção é construída sobre uma gradação, com instrumentação e vocais mais pronunciados a cada segundo, tudo acompanhado pelas harmonias vocais ousadas de Florence.
Aliás, é apropriado dizer que o ponto alto da gravação está nos vocais de Florence. Interpretando a música de forma livre e energética, a vocalista exercita sua larga amplitude vocal nesta canção sem nenhum constrangimento, mostrando versatilidade e entregando o mesmo verso cada vez de uma forma diferente, tornando a música um passatempo agradável e interessante até o último segundo

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Stormy Weather


Há aquelas canções tão incrivelmente perfeitas que você às vezes até gostaria que tivessem a ver com sua vida só para que você pudesse apreciá-las melhor.
Eventualmente, você pode conseguir este feito, mas se a canção em questão for Stormy Weather, você se arrependerá amargamente de um dia ter desejado tal coisa.
Interpretada por uma miríade de nomes do jazz e do soul, desde Frank Sinatra até Bilie Holiday, Stormy Weather é uma canção de amor sofrida que conta com uma harmonia deliciosa.
A versão de Etta James, de 1971, é uma das minhas personal favorites exatamente por, a meu ver, conseguir compreender de forma sensível a música. Sem deixar sua gigantesca habilidade vocal de lado, Etta opta por uma entrega mais contida, e aposta em um registro mais granulado de sua voz, deixando de lado as inadequações de performances como as de Ella Fitzgerald, ou Ringo Starr.
Afinal, nossa protagonista está sofrendo. Sofrendo de desespero, de dor, de tristeza, de abandono.
Seriously, a performance de Etta é boa o bastante. Não precisa sentir na pele.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Top 5: Fossa


Quem nunca chorou ouvindo uma música que atire a primeira pedra. Quem nunca identificou a própria dor em uma canção, que atire as seguintes. Organizei um pequeno top com algumas canções indispensáveis quando você acaba de ser screwed up por alguém no fim de uma relação

Mon Amour – Shakira faz um desabafo cheio de ódio, despeito e sadismo nesta música que emana de girl Power. E quem nunca desejou o pior ao ex? Melhor verso: “I really hope you have a horrible vacation/ Hope the french fleas eat you both alive/ And your room smells/ And the toilet doesn't flush”
Linger – Não sou um grande conhecedor dos The Cranberries, mas além do arranjo confortável e da voz ao mesmo tempo suave e potente da vocalista, ‘Linger’ é repleta de dor e indignação. Melhor verso: "If you, if you could get by/ Trying not to lie/ Things wouldn't be so confused/ And I wouldn't feel so used"
Piece of My Heart -  A interpretação comovente  e o timbre de voz de Janis Joplin por si só já são carregados de dor. Alie a isso um riff de guitarra rascante e uma letra cheia de uma nostalgia agressiva e o resultado é uma das canções mais tristes da história que não pode faltar no iPod de quem acabou de sofrer uma decepção amorosa. Melhor verso: "And each time I tell myself that I, well I think I've had enough/ But I'm gonna show you, baby, that a woman can be tough"
I Just Don’t Know What To o With Myself – Seja na voz afinadíssima de Dusty Springfield ou com as guitarras mortais de Jack White, esta canção não trata do término em si, mas do que fica, dos restos de uma relação e de como os ex-amantes lidam com a readaptação. Melhor verso: “planning everything for two/ doing everything with you/ and now that we're through/ I just don't know what to do”
Resentment – A canção definitiva para aqueles que foram traídos, este B-side tem os excessos vocais costumeiros de Beyoncé, mas ao menos deixa as programações de sintetizador de lado para fazer um desabafo constrangedoramente sincero. Melhor verso: “I know she was attractive but I was here first/ Been ridin' with you for too long/ why did I deserve/ To be treated this way by you”

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

É ruim, mas é bom



Esta semana os Black Eyed Peas finalmente lançaram o vídeo para seu novo single ‘The Time (Dirty Bit)’ e quando ouvi a faixa sabia que teria o que falar dela aqui. Não, ‘The Time’ não é um single fabuloso, muito pelo contrário: é horrendo, mas não é da faixa em si que quero falar, e sim do que ela significa.
Deixando de lado aspectos relacionados à estrutura da canção, ‘The Time’ ganha muitos pontos por indicar um caminho interessante para os Peas: Ao invés de apostar no electrodance farofa que bomba nas paradas de todo o mundo, como a maioria, o BEP prefere apostar em um som eletrônico mais bruto, voltado para as pistas de dança. Embora não seja nenhum primor, este single sinaliza a evolução do BEP em busca de um som próprio, alheio a modismos e ainda assim antenado com o mercado.
É claro que isto não significa que o single ou o disco serão bem sucedidos, mas que é muito interessante ver um artista se esforçando para conseguir uma identidade musical em tempos de gaguismos, isso é.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Piggies

Everywhere there's lots of piggies
Living piggy lives
You can see them out for dinner
With their piggy wives
Clutching forks and knives to eat their bacon.

Não era exatamente isso que o George Harrison queria dizer, mas o que importa é que serve.

sábado, 13 de novembro de 2010

Guilty Pleasures pt. 1

Todos nós temos nossos guilty pleasures – aquelas coisas que adoramos mas das quais temos muita vergonha. Pensando neste conceito, resolvi fazer, em duas partes, um post em que falo um pouco de algumas músicas horrendas que eu simplesmente adoro – e inevitavelmente cantarolo sempre que ouço no rádio.
Fiz uma seleção de dez músicas que está organizada de forma cronológica. Vamos às cinco primeiras:

Kiss – Os anos oitenta são sinônimo de exagero: muita cor, muito brilho e – acima de tudo – muito sintetizador. E quem melhor do que Prince para falar de exageros? Somente a figura andrógina do cantor poderia declarar seu amor por uma mulher forçando sua voz à agudos risíveis. Mas, no fim, quem resiste à incrível linha de baixo desse hit?
As Long As You Love Me- Embalada pelas programações de sintetizador secas típicas da sonoridade dos anos 90, vocais desnecessários e o recorrente tema de meninos adolescentes gostosinhos cantando sobre decepção amorosa, As Long As You Love Me é uma baladinha grudenta que foi até trilha de novela. A gravação conta com aqueles arranjos de backing vocas típicos de grupo de pagode e comete a proeza d rimar mistery com history, algo certamente nunca antes feito na industria fonográfica.
Sometimes – Britney Spears é uma das maiores farsas da música pop e isso não é segredo para ninguém. Não é segredo também que ela tem uma pequena coleção de hits pra lá de invejável. Apoiada na imagem de virgem e usando um tom tão improvável quanto aqueles usados por Madonna em começo de carreira, uma Britilda pré-loucura canta sobre virgindade nesta baladinha melosa e terrível. Mas, é claro, nada disso valeria a pena sem o videoclipe ultra cafona com orçamento de vinte reais.
Come back to me - Junte samplers de Avril Lavigne e de uma banda dos anos 70, vocais estridentes e produção excessiva. O resultado só pode ser a ultra trash Baby Come Back, primeiro hit solo de Vanessa Hudgens depois de ser catapultada ao sucesso por High School Music. Separadas, as inúmeras camadas de som da produção são o suficiente para fazer ao menos quatro músicas novas – todas igualmente horríveis, claro.
Wind it up – Depois de um poderoso álbum de estréia, Gwen Stefani desapontou a todos com essa uptempo meia boca. Pesando a mão nos sons sintetizados, ‘Wind It Up’ é provavelmente uma das músicas mais insuportáveis já feitas (junto com 'Sexy Back', do Justin) e, em alguns momentos, lembra até aquele funk do Biruleiby. Alguém lembra?

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Breaking News - Michael Jackson


Depois de faturar muito às custas da morte de Michael, a Sony Music se prepara para lançar um disco de inéditas do cantor em dezembro. Para isso, a canção ‘Breaking News’ foi lançada como promo single (uma música de trabalho divulgada só para tocar nas rádios e chamar atenção, sem vídeo e sem liberação para downloads pagos)
De certa forma, a faixa é bastante coerente com o que o rei do pop vinha fazendo em seus últimos trabalhos de estúdio: o som r&b característico de seus trabalhos de sucesso, as linhas de bateria sintetizada extensas, e o contra-tempo marcado da faixa são tipicamente oitentista e datados, enquanto alguns elementos modernos são inseridos de forma irregular numa tentativa equivocada de situar a faixa no mercado atual.
Por outro lado, a canção apresenta características que, se não são do feitio de Michael, tampouco podem ser consideradas uma evolução, e a principal delas é o trabalho vocal.  Maneirismos à parte, Michael era um ótimo vocalista e sua voz sempre teve destaque em suas produções, usando o acompanhamento vocal apenas para florear os registros mais baixos,aqui, porém, a voz de Michael aparece mergulhada atrás do backing vocals.
Este trabalho de Michael Jackson traz para o meio musical um assunto muito em voga no meio literário, que é a relevância e a validade de trabalhos póstumos elaborados com base em material descartado em vida por seus autores. No caso específico de Michael, além de ‘Michael’ ser todo formado por canções previamente descartadas no processo de produção, elas certamente ainda passaram pelas mãos dos mais diversos produtores da moda para tornar o material atraente.
Quanto de Michael realmente existe neste disco? Nem ele pode dizer.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Whip My Hair - Willow Smith

Relutei um pouco mas acabei parando para ouvir ‘Whip My Hair’, da Willow Smith, e confesso que tive uma excelente surpresa. Embora seja mais um urban-pop farofão, ‘Whip My Hair’ é essencialmente uma boa canção. A produção é convincente, os vocais de Willow são surpreendentemente bons para uma artista novata (mesmo que haja um pouquinho de auto-tune aqui e ali) e – sempre insisto nisso – o refrão é extremamente grudento.
O fato é que a faixa tem tudo o que precisa para ser um grande sucesso. A canção traz a temática “fexativa” que o público gay adora e uma bela batida construída pelo produtor Jukebox com muito sintetizador. Além, claro, do apelo de se ter uma canção pop cantada por uma criança de 10 anos.
Depois de o mercado ser assolado por anos por artistas teen pré-fabricados (vide Justin Bieber e Milley Cyrus, para citar só dois), Willow parece uma contra-resposta sem sequer ter atingido a adolescência: é claro que é superficial julgá-la apenas por um single, mas cantora mirim já mostrou ter bastante carisma, bons vocais e tino comercial, o que por si só já é bem mais do que a galerinha aí de cima tem junta.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Poison - Nicole Scherzinger

Num outro texto, comentei como alguns artistas nunca erravam. Bom, alguns nunca desistem. Um exemplo é Nicole Scherzinger.
Mesmo depois de quatro singles fracassados, ela continua a tentar emplacar um disco solo e, para isso, sua nova aposta é a faixa ‘Poison’. Para assegurar o sucesso, ela se resguardou o quanto pode: conseguiu uma pontinha no X Factor, o programa mais popular da TV britânica, e chamou Red One, o produtor de Lady Gaga, para criar um eletro bem aos moldes de tudo o que rola na cena pop por aí.
O resultado é uma faixa oportunista que não convence. A canção também tem uma outra peculiaridade dos trabalho de Scherzinger: mesmo solo, suas faixas continuam com cara de música das Pussycat Dolls. Além disso, nem ‘Poison’ nem qualquer um dos outros singles já lançados por Nicole apresentam algum tipo de identidade musical, se limitando a repetir modelos prontos em busca de algum sucesso nas paradas.
Ironicamente, acho que com este novo single Nicole se aproxima muito de  Christina Aguilera e seu single ‘Keeps Getting Better’: o gênero oportunista, a falta de tino comercial, o videoclipe sobre heroínas e, claro, o título de maior flop do ano.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aquele bom boom pow


Neste sábado finalmente aconteceu o show do Black Eyed Peas que eu esperava há alguns meses. E a espera valeu a pena: Apresentando uma coleção invejável de hits para uma carreira tão curta, o grupo ofereceu um show fluído e repleto de efeitos especiais.
Demonstrando esforço visível em trazer a cada um dos membros do grupo um pouco de individualidade, cada membro ganha um momento solo em que apresenta seu material paralelo e aí reside um ponto forte do show: ao contrário de outros espetáculos pop, o show não precisa de interlúdios cansativos, uma vez que há sempre ao menos um dos integrantes sobre o palco.
Quanto aos integrantes, sempre pensei em Fergie como o nome mais forte do grupo e, se comercialmente falando, isso é verdade, num grupo construído sobre a miscigenação, Fergie é que menos contribui para o caldeirão que é o Black Eyed Peas. Durante toda a apresentação, ela se contenta em vestir a imagem de gostosa do grupo exibindo figurinos voluptuosos e soltando berros constrangedoramente desafinados. Pensando bem, talvez esta seja mesmo a função dela (ou só eu reparei que o microfone dela é mais baixo do que os dos outros?). Por outro lado, o líder Will.i.am contagia com seu carisma e transforma seu momento solo em uma verdadeira jam eletrônica, improvisando com samplers que vão de Don’t Stop Till You Get Enough a Smells Like Teen Spirit, naquele que é certamente um dos melhores momentos de todo o show.
Falando em melhores momentos, seria impossível não mencionar a participação inusitada de Jorge Ben no show. Debaixo da chuva tímida que caía sobre a praça da apoteose, ele apresentou ‘Chove Chuva’, mostrando que seu trabalho dialoga de forma bem interessante com o som moderno do BEP e nos fazendo ansiar por uma parceria com Will.i.am.
Apesar do encore foi burocrático com ‘I Gotta Feeling’ (tinha como ser outra?), o BEP mostra que tem aquele boom boom pow necessário para esgotar ingressos por todo mundo e fazer um show relevante e atrativo.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Fogos de artifício vocais

Acabo de assistir a esta singela apresentação de  Kate Perry, e, bom, bem se Kate ganhasse um tostão por casa vez que erra uma nota, nem precisaria vender CDs (o falsete em 1:40 é particularmente constrangedor).
O mais triste é que o caso de Kate não é um caso isolado no mundo da música. Com a industria despejando no mercado artistas pré-produzidos a toque de caixa (não que este seja o caso de Kate), a quantidade de pessoas com muito sex appeal e nenhuma afinação anda bastante alta na cena musical. Esta situação me leva a pensar em qual é, de fato, a importância de uma boa voz no perfil de um cantor profissional.
Por mais complexo que seja dizer isto, acho que a voz não é o ÚNICO (embora esteja no top 5) atributo de um bom cantor, e por mais paradoxal que seja dizer que um cantor não tem necessariamente que cantar bem, já justifico minha posição: ele não precisa necessariamente cantar bem se tiver outras habilidades que contribuam e enriqueçam para seu trabalho musical (logo, dançar, ser sensual  e tomar Starbucks não contam). Exemplos disto estão na história da música aos montes: Bob Dylan canta tão bem quanto eu e os próprios Beatles não eram nenhum exemplo de potência vocal. No Entanto, a contribuição deste nomes para a música é imensurável.
Por outro lado, cantoras com potência vocal absurda como Celine Dion, Mariah Carey e Whitney Houston conseguiram estender suas carreiras por mais de uma década sem de fato criar algo que trouxesse alguma mudança. Ao executar verdadeiros solos de guitarra vocais, elas trazem o foco de seu trabalho para a voz, ignorando o fato de que a voz é apenas mais um dos instrumentos da música (e como qualquer um deles, também é dispensável de vez em quando).
Ironicamente, este é o mesmo fato que permite que os Beatles, Bob Dylan e Kate Perry vendam sua música.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Heartbreak Warfare


John Mayer é um cara que sempre acerta na mosca. Um de seus últimos singles, ‘Heartbreak Warfare’, além do título ótimo, é uma das melhores baladas de seu último trabalho de estúdio, Battle Studies.  Com muita engenhosidade, a canção compara a animosidade presente em uma relação em crise onde os amantes se tornam inimigos à tensão de duas nações em guerra.
Curiosamente, ao ouvir a faixa ‘Heartbreak’ pela primeira vez, tive a sensação de que esta poderia ser perfeitamente uma gravação do U2 do finzinho dos anos 80 e, isto se deve especialmente ao arranjo de bateria, com sua marcação de tempo bem “antiquada”, e o recurso de reverberação (bem típico dos 80’s) aplicado à voz de John. 
Falando da voz do John, os momentos finais de ‘Heartbreak’ mostram o cantor forçando sua voz relativamente pequena um pouco além de sua habitual zona de conforto, o que é sempre legal. Além disso, a habitual entrega contida de John cai como uma luva à canção, trazendo a dose de emoção ideal sem ofuscar os outros elementos da faixa.

domingo, 26 de setembro de 2010

Prelude to a Kiss


Alguns artistas são tão bons que às vezes você até se pergunta se eles são humanos mesmo. Alicia Keys é um desses. Durante o evento Hope For Haiti, no começo do ano, conheci uma de suas faixas mais tocantes, a sufocante ‘Prelude To a Kiss’.
A gravação trata daqueles momentos de fraqueza e vulnerabilidade que todos nós experimentamos em algum momento e, para interpretar tal mensagem, Alicia utiliza de vocais cheios e vocalizações intimistas. O arranjo parece ecoar a solidão da faixa: A voz potente de Alicia aparece quase nua, acompanhada apenas por um pouco de reverberação e um arranjo com notas cadenciadas de piano.
Como se Alicia já tivesse gritado para o mundo toda sua angústia, a faixa termina inesperadamente após pouco mais de dois minutos, sem nenhum refrão e sem mais, apenas com um suspiro e um fade. É como se o sofrimento tivesse passado e, como sugere o título da música, fosse só um daqueles momentos ruins que antecedem algo bom.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O que é rock?


De vez  em quando me deparo com alguém na vida (ou na internet, porque internet não é vida, todo mundo sabe)reclamando de como a Avril Lavigne era mais legal quando fazia rock, ou elogiando o som “pesado” de Britney em ‘I Love Rock n’ Roll’, ou dizendo que Cine é rock e  isto me faz pensar no que é rock no senso comum.
No geral, a idéia de rock parece estar estritamente associada à sonoridade das guitarras elétricas – dos metais – o que não é equivocado, uma vez que o instrumento tem papel fundamental na sonoridade do estilo, mas tomar este som por todo o estilo é uma noção, no mínimo, reducionista e que exclui da lista nomes importantes para o gênero como Elvis ou Bob Dylan por não terem uma sonoridade não carregada.
Muito disto se deve ao fato de o pop ter se apropriado de muito da estética sensual do rock. Isto associado à grande obra de Bob Dylan, que “borrou” as linhas que separam os estilos musicais, permitindo  que certos elementos fluíssem livremente entre eles, só tornou mais fácil para que qualquer que levante o dedo do meio ou bata cabeça num solo de bateria possa ser chamado de roqueiro. Ignorando o fato de que as guitarras são, no fim das contas, só mais um instrumento,  basta ter guitarras mais pronunciadas para ser rock.
Vale parar para pensar nisso, né? Por que se rock for só guitarra, chimbinha é Axl Rose.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Quem roubou o talento de Shakira?


O lançamento da horrível 'Loca' me fez voltar à minha estante em busca  de um porquê para eu ter um dia admirado o trabalho de Shakira.  Achei a resposta assim que tirei a poeira de ‘Donde Están Los Ladrones?’, de 1998,  época em que o talento da colombiana ainda não era ofuscado por seu desejo de ser comercial.
Um excelente exemplar de de pop/rock latino dos anos 90, o disco apresenta ao ouvinte uma seleção afinada de faixas que atendem a todos os gostos, quase sempre apoiadas por letras memoráveis (e é uma grande pena que hoje seu talento como compositora tenha ficado perdido sob tantas camadas de sensualidade) e arranjos sensatos.
O disco é recheado de pontos altos, como a intensa carga dramática de ‘Sombra de Ti’, o pop rock urgente da faixa-título ou o incrível arranjo de ‘Inevitable’ (uma das minhas favoritas). É claro que há deslizes (‘Que Vuelvas’ é pura perda de tempo), mas, no geral, o disco é de fato um raro exemplar de qualidade na carreira bem irregular da cantora. Se você busca pop rock de qualidade, sem pretenções ou distrações, esse é o disco.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sabores e aromas da infância


Algumas músicas são especiais. Acima do lirismo de suas letras e ou da complexidade de seus arranjos e melodias, estas canções se tornam especiais porque representam memórias importantes.
Certamente, todos se lembram de algumas músicas que embalaram momentos especiais, mas neste post quero falar mais especificamente de algumas faixas que representam não momentos, mas etapas da minha vida. Canções que trazem aquelas memórias sensoriais – talvez as mais fortes de todas e que até mesmo evito ouvir com medo perder estas sensações.
Sacrifice – esta balada singela construída com teclados oitentistas traz uma abordagem suave para o psicodelismo dos anos oitenta. Está tudo lá: as linhas de sintetizador, alinhadas com a voz melódica de Elton John. Ao lado de Careless Whispers, do George Michael, forma a dupla de músicas da minha infância.
Careless Whispers - Um ultra hit do George Michael de 84, Careless Whispers tocou à exaustão no Brasil, e talvez este seja o motivo de eu conhecê-la da minha infância. Me lembro que eu “cantava” o extenso riff de saxofone que permeia toda a música. Aqui, a letra não é tão inspirada e a melodia é simples e cheia de artimanhas pop, mas o que importa, ainda assim, são as lembranças.
No próximo (ou num dos próximos) continuo falando das músicas da minha adolescência.

sábado, 21 de agosto de 2010

Um restart na indústria nacional

Muitos (eu incluso)torcem o nariz para as novas bandas que tem surgido e tomado uma boa fatia do publico nacional, como Hóry, Cine e Restart. Novo fenômeno nacional, estas bandas com visual colorido e excêntrico e com som melódico estão em toda parte
Porém, a restartmania aponta sinais bastante positivos. Além de aquecer as vendas no mercado , pela primeira vez em anos o Brasil consegue produzir um fenômeno adolescente orgulhosamente (ou não) nacional. Se ao longo da última década vimos nomes como RBD, Jonas Brothers, e Backstreet Boys ganhar milhões às custas das adolescentes histéricas brasileiras, desta vez o produto é nosso. Com isso, o mercado só tem a ganhar: mais investimento na produção dos discos nacionais (que, quando o assunto é mainstream, é risível de forma geral), mais investimento em imagem, videoclipes.
Se você não curte o som deles e os acha "enjoadinhos", deixe a galera ganhar um dinheiro para comprar roupas melhores e pense na evolução que eles representam para o nosso mercado.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Covers



Outro dia, numa conversa com o master Evandro, me atentei para o que é um cover. Afinal, qual á lógica em recriar uma canção simplesmente adicionando novos vocais (que na maioria das vezes, nem são tão diferentes assim)? A função real do cover é abordar uma canção a partir de outro ponto de vista e um novo formato, por isso, escolhi algumas canções que, além de serem bastante distintas de suas originais, são ótimas:
“Ray of Light” – Lançada originalmente em 1971 sob o título de ‘Sepheryn’, a canção foi retrabalhada por Madonna na década de 90. Enquanto o trabalho com a letra é melhor descrito como uma “edição”, aparando excessos, a grande modificação na versão de Madonna é mesmo o arranjo. De rock psicodélico, a faixa se transformou num trance afiado, dançante e extremamente comercial.
“Your song” – A versão feita por billy Paul para o sucesso de Elton John traz alterações tamanhas que é até complicado dizer que as duas tratam-se da mesma canção. A versão de Billy altera consideravelmente a estrutura da canção e até o refrão da balada original aqui deixa de existir, embora pouquíssimas alterações sejam feitas na letra, para acomodá-la ao novo compasso. Além disso, cada estrofe ganha uma dose extra de tensão, eliminada com o decorrer na música.
"Fell in love with a Boy"- Sem os vocais rasgantes ou as guitarras afiadas do White Stripes, Fell in Love with a Girl ganha um ar mais groovy e suave na voz potente (porém controlada) de Joss Tone e é definitivamente um dos pontos altos de seu disco de estréia.
"Bizarre love triangle" - Deixando de lado o psicodelismo e as complexas linhas de sintetizador da gravação do New Order, o extinto grupo Frente gravou no começo dos anos 90 uma versão para a faixa que prima pela simplicidade e deixa de lado a versão do grupo norte-americano. Com todas as arestas aparadas, é possível apreciar a boa melodia.
"Fico assim sem você" - Clássico do funk pop nacional na voz da dupla Claudinho e buchecha, a canção foi remodelada sem perder muito de sua estrutura original. Fazendo escolhas que melhor combinam com a simplicidade dos versos, Adriana consegue aflorar a delicadeza da canção ao escolher um arranjo que mescla elementos acústicos e eletrônicos de forma bastante aceitável.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Islands- The XX

Há algum tempo pensava em ouvir a banda inglesa The XX. Expoentes do indie rock inglês, o quarteto produziu o próprio disco de estréia, que embora não tenha emplacado nas paradas, agradou bastante gente (inclusive a mim).
Embora tenha sido apenas o terceiro single do disco, ‘Islands’ sem duvida alguma é a melhor e mais cativante faixa do disco. A faixa deixa no ouvinte a sensação de estar ouvindo rock amaciado e é impossível não pensar em como esta poderia ser uma grande gravação de indie rock fossem umas guitarras mais pronunciadas e alguns tons mais altos. Ainda assim, o refrão catártico se mantém forte e pegajoso mesmo com a entrega quase falada oferecida pelos vocalistas.
Outro ponto positivo de ‘Islands’ (e uma característica do disco como um todo)é a forte influência de grupos da cena eletrônica inglesa como os caras do Massive Attack. Apesar da instrumentação leve, a linha de baixo extensa encorpa e dá profundidade ao som. E, claro, seria injusto encerrar este comentário sem falar sobre o preenchimento elegante do arranjo de guitarras.
O The XX se mostra uma excelente descoberta para quem gosta de indie rock e trip-hop como eu. Mesmo que esta não seja muito a sua praia, o som de ‘Islands’ é acessível o bastante para agradar.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Gaguismos

Parece bem claro para todos que o objetivo de Lady Gaga vai muito além de ser apenas mais uma estrela pop. As declarações feitas apenas para gerar notícias, os visuais bizarros e o fluxo constante de novo material evidenciam o anseio da cantora de transcender o cenário musical e fixar sua imagem no consciente coletivo.

Preocupada em manter seu nome relevante, ela trabalha há mais de dois anos o disco The Fame – que entre inúmeros relançamentos, já rendeu 10 singles – e constrói paulatinamente uma estética característica . Porém, Gaga parece deixar de lado um aspecto importante em sua empreitada rumo à dominação global: ao mesmo tempo que esta super-exposição fortalece sua imagem como ícone pop mundial, cada vez mais a configura como um daqueles fenômenos musicais que são bastante comuns no mundo pop: conscientes da efemeridade do material que tem em mãos, as gravadoras extraem o máximo de dinheiro possível, causando um esgotamento que encurta ainda mais a “Vida útil” de tais produtos. Este processo é bastante conhecido do grande público: Os Menudos, Spice Girls e, mais recentemente, o RBD não estão aí para provar isso.

Com um novo disco já pronto, Lady Gaga almeja o posto de neo-rainha do pop sem de fato perceber quem é o controlador e quem é o controlado

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Choices

Esta semana fui apresentado a uma nova banda, o The Hoosiers, que acaba de lançar ‘Choices’, o primeiro single do segundo disco do grupo, The Illusion of Safety.
O que eu achei? Bom, Choices não é nada incrível. Apostando num pop/rock muito mais pop do que rock, a banda sueca investe naqueles hooks pegajosos e num refrão radiofônico. Uns sintetizadores aqui e ali insinuam um flerte bem tímido com a eletrônica (talvez seja uma tendência do disco, mais acentuada em outras faixas), enquanto os vocais roucos e agudos de Irwin Sparks, líder da banda, completam a tarefa de proporcionar uma experiência musical agradável e fácil de ser consumida ou ouvinte.
Aparentemente mais pop do que em seu primeiro trabalho, o The Hoosiers parece decidido a conquistar a Europa com um som nada inovador, mas que, mais importante, não tem pretenções muito além de entreter. E é isso o que importa.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O canal musical sem música



Outro dia resolvi fazer uma coisa que não faz parte da minha rotina: assistir TV. E para isso, escolhi a MTV, já que gosto tanto de música. Seria bom assistir uns clipes recentes e tudo mais. O que me surpreendeu, na verdade, foi uma sequência de programas bobos que não fazem nada além de revelar para mim o que provavelmente não é novidade para ninguém: a decadência da MTV. Responsável nos 80 pelo nascimento da música pop tal como a conhecemos hoje, funcionando como uma catalizadora de tendências, a MTV hoje perdeu seu poder (especialmente devido à internet) e, se antes era inovadora e extremamente relevante para o mercado, hoje sequer consegue atender as necessidades de uma juventude cada vez mais rápida, sucateada pelas novas mídias disponíveis.

Não, o canal não assiste a própria decadência de braços cruzados. Ao longo dos anos, a MTV criou o Urge, o MTV Hits, o MTV Music, o MTV Tr3s e, numa última tentativa desesperada, até mesmo retirou completamente os videoclipes de sua programação (para trazê-los de volta pouco tempo depois), mas todas estas ações foram absolutamente ignoradas pelo publico, reflexo de uma compania acostumada a ditar e não a seguir as regras do mercado.

É uma grande pena que a MTV não tenha sido capaz de evoluir junto com o mercado e que a emissora que foi a responsável pela criação de uma nova era na música pareça estar morrendo com ela.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Cornestone



Algumas músicas encantam pela forma como suas letras são construídas, porque conseguem constituir significado em si mesmas. Um exemplo é ‘Cornerstone’, do Arctic Monkeys.
A canção apresenta um protagonista que, obcecado por sua amada, tenta encontrá-la em outras mulheres com as quais esbarra em situações diversas e é a partir destes encontros que seu perfil – e sua angustia - é construído. “But my chances turned to toast /When I asked her if I could call her your name”, diz ele, em um dos versos, expressando o desespero de transferir para alguém a imagem idealizada da mulher que ama.
Porém, o ponto alto de Conerstone é o encontro com a terceira e derradeira mulher, retratado na pedra fundamental do título - talvez um símbolo de reconstrução. Como nos encontros anteriores, ele a compara a sua amada, e constata: “well, you couldn’t get much closer”, e a resposta da garota ("I'm really not supposed to but yes, You can call me anything you want") não só retoma e comprova a eficácia da imagética construída ao longo dos versos como traz conotações bastante interessantes para o último verso (que é de longe o meu favorito).
Embora um fracasso comercial, Cornerstone é provavelmente a melhor canção do álbum Humbug e, bom, merece alguma atenção. Não deixe de conferir.