domingo, 26 de setembro de 2010

Prelude to a Kiss


Alguns artistas são tão bons que às vezes você até se pergunta se eles são humanos mesmo. Alicia Keys é um desses. Durante o evento Hope For Haiti, no começo do ano, conheci uma de suas faixas mais tocantes, a sufocante ‘Prelude To a Kiss’.
A gravação trata daqueles momentos de fraqueza e vulnerabilidade que todos nós experimentamos em algum momento e, para interpretar tal mensagem, Alicia utiliza de vocais cheios e vocalizações intimistas. O arranjo parece ecoar a solidão da faixa: A voz potente de Alicia aparece quase nua, acompanhada apenas por um pouco de reverberação e um arranjo com notas cadenciadas de piano.
Como se Alicia já tivesse gritado para o mundo toda sua angústia, a faixa termina inesperadamente após pouco mais de dois minutos, sem nenhum refrão e sem mais, apenas com um suspiro e um fade. É como se o sofrimento tivesse passado e, como sugere o título da música, fosse só um daqueles momentos ruins que antecedem algo bom.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O que é rock?


De vez  em quando me deparo com alguém na vida (ou na internet, porque internet não é vida, todo mundo sabe)reclamando de como a Avril Lavigne era mais legal quando fazia rock, ou elogiando o som “pesado” de Britney em ‘I Love Rock n’ Roll’, ou dizendo que Cine é rock e  isto me faz pensar no que é rock no senso comum.
No geral, a idéia de rock parece estar estritamente associada à sonoridade das guitarras elétricas – dos metais – o que não é equivocado, uma vez que o instrumento tem papel fundamental na sonoridade do estilo, mas tomar este som por todo o estilo é uma noção, no mínimo, reducionista e que exclui da lista nomes importantes para o gênero como Elvis ou Bob Dylan por não terem uma sonoridade não carregada.
Muito disto se deve ao fato de o pop ter se apropriado de muito da estética sensual do rock. Isto associado à grande obra de Bob Dylan, que “borrou” as linhas que separam os estilos musicais, permitindo  que certos elementos fluíssem livremente entre eles, só tornou mais fácil para que qualquer que levante o dedo do meio ou bata cabeça num solo de bateria possa ser chamado de roqueiro. Ignorando o fato de que as guitarras são, no fim das contas, só mais um instrumento,  basta ter guitarras mais pronunciadas para ser rock.
Vale parar para pensar nisso, né? Por que se rock for só guitarra, chimbinha é Axl Rose.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Quem roubou o talento de Shakira?


O lançamento da horrível 'Loca' me fez voltar à minha estante em busca  de um porquê para eu ter um dia admirado o trabalho de Shakira.  Achei a resposta assim que tirei a poeira de ‘Donde Están Los Ladrones?’, de 1998,  época em que o talento da colombiana ainda não era ofuscado por seu desejo de ser comercial.
Um excelente exemplar de de pop/rock latino dos anos 90, o disco apresenta ao ouvinte uma seleção afinada de faixas que atendem a todos os gostos, quase sempre apoiadas por letras memoráveis (e é uma grande pena que hoje seu talento como compositora tenha ficado perdido sob tantas camadas de sensualidade) e arranjos sensatos.
O disco é recheado de pontos altos, como a intensa carga dramática de ‘Sombra de Ti’, o pop rock urgente da faixa-título ou o incrível arranjo de ‘Inevitable’ (uma das minhas favoritas). É claro que há deslizes (‘Que Vuelvas’ é pura perda de tempo), mas, no geral, o disco é de fato um raro exemplar de qualidade na carreira bem irregular da cantora. Se você busca pop rock de qualidade, sem pretenções ou distrações, esse é o disco.